AUTO DO DÍZIMO DE URGEZES
Que quereis vós, estudantes
Donde vêm tais fregueses?
Somos simples visitantes
Vimos pelo Dízimo d’Urgezes
Isto já não é o que era
Tradição já não se usa
Não aceitamos espera
Não admitimos recusa
Outros tempos são agora
Não há lugar a usanças
Olhai que saltais fora
E entrareis noutras danças
Não há borlas ou fiados
Que a crise muito aperta
Se os tendes entalados
A banca tem perna aberta
Armai-vos vós em finos
E carapaus de corrida
Somos jovens, nicolinos
Venha comida e bebida
E como vai por Urgezes
Como vai nossa capital?
Como todos os portugueses
Uns vão bem, outros mal
Já cá tendes o Intermarché
O Hiper mais dos chineses
Não há salários ou cachet
Para tantos dias e meses?
Nas contas de todos os meses
Pr’a comer, beber e cagar
Valem-nos os ciganos e chineses
E o crédito, pr’ poder pagar
Mas até houve festa
A S. Estêvão, patrono
Pr’a foguetes sempre resta
Algum dinheiro d’ abono
E veio o Centro Escolar
E um parque de lazer …
Não é mau este folar
Mas muito há ainda a fazer
De Cavez a de Guimarães
De Arosa até Lordelo
Computa nosso Magalhães
Ninguém levanta cabelo
E das obras na cidade
Prá capital cultural?
Um Algarve de publicidade
E as obras no Toural
E que dizeis da nação
Desta nova legislatura?
Tal como a educação
Só mudou a criatura
Estais agora sob Alçada
E com toques de ternura
Mas quase não mudou nada
Nesta nova aventura …
Uma aventura na escola
Novo Estatuto d’ Aluno …
Antes queríamos a bola
E um feriado oportuno
E como vão os docentes
Vossos profes estimados?
Coitados, andam doentes
Foram todos congelados …
Mas vieram novas metas
Que se dizem educativas
Vamos todos ser atletas
Vai ser tudo na desportiva
E esses vossos estudos
Como vai essa ciência?
Há marrões e cabeçudos
Mas pouca inteligência
Na cabeça é só piolhos
Na orelha brinquinhos
Pareceis piratas zarolhos
Aves d’ aviário, franguinhos …
E como vai Portugal
Como vai esta nação?
Entre a gula e o frugal
Da retoma à recessão
Nosso primeiro Zé Trocas
Manda apertar o cinto
Que se deixe d’ engenhocas
Que o povo anda faminto
Qual então a vossa aposta
Que me dais vós de conselho?
Apenas temos por resposta
Que não vai a passos de coelho
Então o que abre Portas
Caros jovens, nicolinos?
Esse só fecha comportas
Escotilhas de submarinos
Todos andam a meter água
Num país aos solavancos
Mas ao BPN (a)paga a mágoa
O nosso Teixeira dos Bancos
Não sois vós contribuintes
Nada tendes a reclamar
Mas dos pais somos pedintes
Também queremos mamar
Não há dinheiro bastante
O TGV não vai d’empurro!
Antes manter uma amante
Ou a pão- de- ló um burro
Há que pagar portagens
É preciso novo aeroporto
Faremos greve às viagens
Qu’ isto vai dar prá torto
Muda o mundo numa semana
Nem sempre do povo é a perda
Essa treta já não me engana
Mudam as moscas, fica a merda
Do governo para as empresas
Para os bancos ou assessorias
Todos ficam em boas mesas
Boas reformas e mordomias
Agora só se vai de cana
Para paraísos tropicais
Vale a pena ser sacana
E aparecer nos jornais
Já se sabe que a corrupção
Usa luvas muito finas
Nem precisa de sabão
E pr’alguns já há vacinas
E que dizeis ao casamento
Entre lésbicas e gays?
Os chifres vão ter aumento
Nesta troca de papéis
Nicolinos, que se passa
Por que estais tão abatidos?
Passa mas é a massa
Qu’ estamos bem fodidos/cozidos
Fala-se que vem o FMI
Nicolinos, estai alerta!
Chamem mas é a AMI
Que até o rabo s’aperta
Mas faz bem soltar os gases
Energia limpa, renovável
E se formos bem eficazes
É um bem a ser exportável
Ó meu rico S. Nicolau
S. Estêvão e S. Gualter
Castigai-os todo a pau
Dai-lhes um bom clister
Rufai hirtos vossas caixas
Erguei livres vossas vozes
Aproveitai bem as rebaixas
Qu’isto nem dá pr’a nozes
E como vai nosso Vitória
Que conquistas prometeram?
Do berço reza a história
Que até um Bebé venderam
Iremos este ano à UEFA
Ou à Taça dos Campeões?
Achamos difícil a tarefa
Para quem não paga milhões
E vamos ter novas obras
Prometidas pelo nosso Milo
Serão obras ou manobras
Ou outro Pimenta em estilo
No centenário da República
Que república desejais?
Somos pela escola pública
Somos pelas regalias sociais
Terá a República eleições
Para já as presidenciais …
Cá para meus botões
Penso que haverão mais
Entre um Lopes e um Nobre
A que poucos darão Cavaco
Um Alegre se descobre
Na tristeza deste buraco
Rompei as peles e bombos
Para que servem as baquetas?
Dai-lhes forte nesses lombos
Vossa chupetas são as tetas …
150 anos são passados
Que nasceu a Ser'Aninhas
Mas mantêm-se os fiados
Os padrinhos e as madrinhas
Ser'Aninhas, mãe dos estudantes
Metei lá em cima umas cunhas
Ponha os preços como dantes
Não os deixe meter as unhas
Rufai hirtos os tambores
Erguei alto vossas vozes
Tomai as maçãs d’ amores
Que vos saibam como as nozes
Nozes, maçãs e figos
Mais um cheque careca
Que nesta crise, amigos
Nem dá para uma caneca
E a beber sede comedidos
Qu’a sede não acaba agora
Já estamos bem bebidos
E já o reforço demora
Pago um fino com tremoços
Esta será a nossa posse
Não penses que dás os ossos
Não nos enganas com tosse
Não darei nada qu’ engrosse
Vosso estado alegrete …
Calai-vos e venha a posse
Um presunto e um cacete
Por S. Nicolau, rufai um toque
Em vossas caixas e bombo
Caixa só de Super-Bock
E um bom bife do lombo
Agora que o dízimo tendes
Se cumpriu esta tradição
Ainda que não vos emendes
Estais em nosso coração
Viva pois S. Nicolau
Viva o povo e a tradição
O legado não é mau
Mas vem tudo por ração
Ide agora com a certeza
Publique-se em editais
Com firmeza e clareza
Para ano haverá mais …
Álvaro Nunes
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