quinta-feira, 24 de março de 2011

CLUBE DE TEATRO APRESENTOU AUTO DO DÍZIMO DE URGEZES




Centenário da República e os 150 anos do nascimento da Senhora Aninhas evocados na tradição

A homenagem à Senhora Aninhas, mãe dos estudantes, nos 150 anos do seu nascimento foi a temática central do “Auto do Dízimo de Urgezes” deste ano, efeméride a que seria acrescentada o centenário da República. Dois em um, que recriou a loja da Senhora Aninhas (num cenário bem concebido pelo Clube das Artes) e nos transportou ao ano da república e do cometa Halley, em 1910, durante uma ceia animada de pica no chão (moina ou enfarta-burros na gíria nicolina), supostamente destinado à degustação vampiresca do animal e do seu sangue e ao ensaio do Pregão Nicolino.
Uma cena habitual nesses tempos, como o próprio folheto do “espectáculo” recordava, transcrevendo uma passagem do pregão de 1942:

Guardava e cozinhava um furto de galinhas
Com infinda paciência, a boa Ser’Aninhas
E às noites – quanta vez – se o bando reunia
À volta da lareira – ó ceia consolada!-
Espírito e chalaça – a guitarra gemia
Nas mãos do Zé Roriz, até de madrugada …
Era assim, era assim … E como tudo passa!
Sabia-se viver com arte e graça!

Quanto à peça propriamente dita, representada pelo Clube de Teatro, orientado pela docente Anabela Silva e formado maioritariamente pelos alunos do 9º. A, todos capricharam nas interpretações, com especial destaque para a Senhora Aninhas (Patrícia Moura), e os estudantes José Pedro Carvalho e Rui Miguel Melo, bem acompanhados pelo coral do 6º. ano, que sob a batuta (melhor dizendo o piano)da professora de Educação Musical Gabriela Caldelas, entoaram e cantaram os hinos de S. Nicolau e de Guimarães.
E como da ceia nem cheiro a frango, nem tão-pouco umas simples moletes, à moda da Senhora Aninhas, foi concedida a palavra o pregoeiro Manuel Silva (Tiago Lemos) que deitando faladura, declamaria, em tom de ensaio, alguns excertos do pregão de 1910:

Tende tudo a morrer de dia para dia
Tal como aconteceu à velha monarquia
Que aqui tivera o Berço, em tempos já remotos
E depois de assistir a guerras, terramotos
Se lutas sociais – a inesperada sorte
Arrebatadamente, a fez cair de morte!
(…)
Intrépidos heróis! Perante vós me inclino;
Salvasteis Portugal, abrindo-lhes um destino
De Liberdade, Amor, de Paz e de Justiça
Hoje podeis juncar a gloriosa liça
Com ramos d’oliveira e coroa de louro,
Pondo o 5 d’Outubro em grandes letras d’ouro!

Depois, a evocação do passado deu lugar ao presente e aos nicolinos de hoje.
Deste modo, em tom satírico q.b. , irreverência comedida e sem censura prévia visível, perante algum vernáculo de circunstância e calão vicentino, o Auto do Dízimo 2010 libertar-se-ia em mais de cinco centenas de quadras, tal e qual como havia sido proferido em 4 de Dezembro, na sede da Junta de Freguesia de Urgezes:

Que dizeis da nação Uma aventura na escola
Desta nova legislatura? Novo Estatuto d’Aluno …
Em matéria d’ educação Antes queríamos a bola
Só mudou a criatura E um feriado opotuno

Estais agora sob alçada E como vão os docentes
E com toques de ternura Vossos profes estimados?
Mas quase não mudou nada Coitados, andam doentes
Nesta nova aventura … Foram todos congelados …

Para o ano poderá haver mais …
Álvaro Nunes

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