domingo, 9 de outubro de 2011

Nicolinas no início do século XX

A Rua de Gil Vicente, no Pregão das Festas Nicolinas, em data incerta do início do século.

As Nicolinas de 1863


Festejos escolásticos. – Terminaram hoje as chamadas madrugadas que precedem os festejos escolásticos do dia 5 e 6 de Dezembro. Houve sempre o maior sossego.
Religião e Pátria, n.º 28, 2.ª série, Guimarães, 5 de Dezembro de 1863

Folguedos escolásticos. – Terminaram domingo os folguedos, que, como já dissemos, é de uso fazer aqui todos os anos a briosa classe escolástica, e se este ano eles não tiveram aqueles fulgorosos entusiasmos que arrebatam o espírito às regiões da mais indescritível alegria, nãos e pode também dizer, atento o pouco e apoucado número de estudantes que aqui há, que foram de todo enxabidos.
Fez-se o magusto sem que houvesse incidente algum desagradável; saiu depois o bando que aqui já demos na sua íntegra; saiu um outro bando, em gosto chulo, que desafiou bastante a gargalhada, e à noite fizeram-se cavalhadas, que, ainda que pouco numerosas, não deixaram de ser, algumas, chistosas e engraçadas. Isto no sábado, No domingo de manhã, foram os estudantes a Santo Estêvão de Urgeses buscar o simulacro da renda, que vieram depois distribuir pelas madamas, todos a cavalo, e trazendo na frente a filarmónica da cidade. De tarde, saíram dois bailes, um de camponeses suíços, e outro em gosto caricato, trajado conforme a época de Luís XIV.
Não podemos porém dizer que neste dia não houve incidente algum desagradável, que deveras sentimos, não só pela pessoa e pessoas a quem foi dirigido o ultraje, como pelo descrédito e infâmia que um só ou dois membros de uma classe acarretaram sobre toda ela.
Foi o caso que, no domingo à noite, dois máscaras entraram no palacete do Ex.mo Snr. Conde de Azenha e aí parece que espalharam uns bilhetes insultantes e de atroz infâmia. Felizmente que já se não ignora quem foram esses indignos que assim abusaram de um recreio honesto e inocente para enxovalharem a veste cândida da classe a que pertencem; e é por isso, e porque não era de esperar outra coisa de quem não soube nunca o que são as praxes da boa educação, mas pelo contrário vive só pelos alcouces e neles tem aguçado a sua índole já de si mesma maldosa, que o nobre conde, e toda a população da cidade faz justiça á classe que eles tão infamemente ultrajaram com aquela sua acção malcriada e infame.
É preciso que se desenganem que não é possível haver nunca aqui boa harmonia e santa paz enquanto daqui não forem escorraçados os meliantes que tão infamemente tudo desconcertam e enrodilham.
Religião e Pátria, n.º 29, 2.ª série, Guimarães, 9 de Dezembro de 1863

sábado, 8 de outubro de 2011

Traditions and Festivals


One of the most colourful and oldest festivals in Guimarães is called the Nicolinas (the feast of St. Nicholas; the devotion to St. Nicholas was spread by pilgrims, as the Saint was a protector of poor girls, oppressed and destitute people, merchants, prisoners, children and students), and it is celebrated by students. The ‘Nicolinas’ are the local student festivals, taking place from the 29th of November to the 8th of December, named after St. Nicholas; the St. Lucy’s Day celebrations take place on the 13th of December. It has several significant moments and it includes events such as the planting of a pine tree in the main square, the collection of offerings (mostly food and drink) from wealthy homes, which are then shared in the streets. Moreover, there is a night of 'robberies' during which objects are removed from public places and left in the central square where they can be recovered by their owners, reciting poetry in the streets and offering apples to young ladies on their balconies. The apples are stuck on long poles or lances, and the ladies thus honoured accept them and return the gesture with some sort of trinket. The festivities end with a grand Nostalgia Ball.

sábado, 1 de outubro de 2011

Nicolinas



« (...) Pela boquinha da noite de 29 de Novembro de 1895 começaram a aparecer na "Fraga do Cano", vindos em grande número pela desaparecida rua de Santa Cruz, os estudantes externos do velho Seminário-Liceu, que para aquela afamada taverna haviam marcado reunião magna. Abancados às compridas mesas que serviam os lavradores que aos sábados vinham feirar os seus gados, banquetearam-se com um rico caldo verde, onde nadava a tora de presunto, seguindo-se-lhe uma opípara rojoada a que não faltava o fígado, a tripa farinheira e os grelinhos embebedados em azeite do fino, do do Padre de S. Miguel, terminando com umas papas de sarrabulho de comer e morrer por mais e umas travessas de aletria, marelinhas e brilhantes, graças a uns pozinhos comprados no droguista, já que os ovos estavam pela hora da morte, dada a vizinhança do Natal. E tudo isto regado com um verde tinto de se lhe tirar o chapéu, que muito ajudava à digestão de tão pesada como abundante comezaina. Terminada esta, muniram-se os circunstantes, que já então envergavam jalecos e coletes e se cobriam com o barrete verde e vermelho do lavrador minhoto, das baquetas e maçanetas consoante as "caixas" e "zabumbas" que lhes competissem e trataram de completar o cortelo, já em organização sob a carvalha do Cano: à frente, o carro de Minerva, deusa da Sabedoria, logo seguida do numeroso grupo dos "Zés P'reiras", atroando os ares com o seu cadenciado zabumbar; seguiam-se muitas dezenas de juntas de gado, que puxavam o pinheiro mais alto e mais aprumado que as luxuriantes matas de Aldão haviam produzido; a fechar, a música dos "Aguças", que, em tanto arruído, mal fazia ouvir os acordes do Hino de S. Nicolau. (...)»



A. Faria Martins, in Os Velhos 1895-1970, AAELG, 1970.

Hino a São Nicolau

Hino a São Nicolau

Letra de A. Meireles Graça

Música de Prof. Óscar Machado

Nicolinas 2000


Canto I

Nicolau o santo mor

Do altar vimaranense

Lição sabida de cor

Deste Amor que te pertence!

Alegria companheiros

Nosso Santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal

Cumprimos a Tradição

Do Santo somos meninos

Mantendo no coração

A chama dos Nicolinos...

Para viver a alegria

Seja lá aonde for

Mantemos a fantasia

Do teu milagre maior:

Somos aqueles meninos

Saídos da salgadeira

Somos Velhos Nicolinos

Vamos lá à brincadeira!

Somos velhos Nicolinos

Somos velhos sem idade

Fazemos nos nossos sinos

Badalos da mocidade...

Alegria companheiros

Nosso santo é Imortal

Somos os pioneiros

Do Saber em Portugal!

São Nicolau!...

…Sou nicolino!

Canto II

Nicolau o santo mor

Do altar vimaranense

Loção sabida de cor

Deste Amor que te pertence!

Alegria companheiros

Nosso Santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal

Somos Velhos Nicolinos

Estudantes do Passado

Alegres como meninos

Com o Santo do seu lado!

Alegria! Haja alegria

Para a vida ser vivida

No sonho e na fantasia

Da criança em nós mantida...

Da criança em nós achada

No milagre permanente

Da Saudade renovada

Do Passado no Presente!

Por caminhos da alegria

Vontade e perseverança

Neste sol de fantasia

Feita sonho de criança.

Alegria companheiros

Nosso santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal!

São Nicolau!...

Sou nicolino!

Canto III

Nicolau o santo mor

Do altar vimaranense

Lição sabida de cor

Deste Amor que te pertence!

Alegria companheiros

Nosso Santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal

São Nicolau milagreiro

Da esperança redentor

Proteges o marinheiro

Das vagas em seu furor

Proteges o prisioneiro

Do terror da solidão

E fazes nele primeiro

O milagre do perdão!

És o santo padroeiro

Das crianças indefesas

E também do marinheiro

E das almas que são presas

És tu sempre o salvador

Dos que vivem solidão

Dos que sofrem por amor

E estudam por devoção!

Alegria companheiros

Nosso santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal!

São Nicolau!...

Sou nicolino!

Canto IV

Nicolau o santo mor

Do altar vimaranense

Lição sabida de cor

Deste Amor que te pertence!

Alegria companheiros

Nosso Santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal

São Nicolau do Saber

Preclaro defensor

Em teu livro vamos ler

O caminho redentor

No estudo e no trabalho

Façamos com alegria

Com a pena e com o malho

Pão-nosso de cada dia!

Nicolau terás de ser

De estudante o protector

Para que ganhe o Saber

Com alegria e sem dor:

Transformas o sofrimento

Em alegre escravidão

E fazes do Pensamento

Fartas searas de pão!

Alegria companheiros

Nosso santo é Imortal

Somos nós os pioneiros

Do Saber em Portugal!

São Nicolau!,..

...Sou nicolino!