
"Um amigo cónego legara em seu testamento aos rapazes coreiros uma renda, constante de certa medida de castanhas e maçãs, imposta numa quinta de Santo Estevão de Urgeses. Os coreiros indo ali todos os anos no dia de S. Nicolau receber a renda, vinham depois a cavalo e em hábitos corais oferecer da mesma às pessoas mais gradas da terra." Jornal "O Vimarenense", 12 de Dezembro de 1886.
domingo, 9 de outubro de 2011
As Nicolinas de 1863

Religião e Pátria, n.º 28, 2.ª série, Guimarães, 5 de Dezembro de 1863
Folguedos escolásticos. – Terminaram domingo os folguedos, que, como já dissemos, é de uso fazer aqui todos os anos a briosa classe escolástica, e se este ano eles não tiveram aqueles fulgorosos entusiasmos que arrebatam o espírito às regiões da mais indescritível alegria, nãos e pode também dizer, atento o pouco e apoucado número de estudantes que aqui há, que foram de todo enxabidos.
Fez-se o magusto sem que houvesse incidente algum desagradável; saiu depois o bando que aqui já demos na sua íntegra; saiu um outro bando, em gosto chulo, que desafiou bastante a gargalhada, e à noite fizeram-se cavalhadas, que, ainda que pouco numerosas, não deixaram de ser, algumas, chistosas e engraçadas. Isto no sábado, No domingo de manhã, foram os estudantes a Santo Estêvão de Urgeses buscar o simulacro da renda, que vieram depois distribuir pelas madamas, todos a cavalo, e trazendo na frente a filarmónica da cidade. De tarde, saíram dois bailes, um de camponeses suíços, e outro em gosto caricato, trajado conforme a época de Luís XIV.
Não podemos porém dizer que neste dia não houve incidente algum desagradável, que deveras sentimos, não só pela pessoa e pessoas a quem foi dirigido o ultraje, como pelo descrédito e infâmia que um só ou dois membros de uma classe acarretaram sobre toda ela.
Foi o caso que, no domingo à noite, dois máscaras entraram no palacete do Ex.mo Snr. Conde de Azenha e aí parece que espalharam uns bilhetes insultantes e de atroz infâmia. Felizmente que já se não ignora quem foram esses indignos que assim abusaram de um recreio honesto e inocente para enxovalharem a veste cândida da classe a que pertencem; e é por isso, e porque não era de esperar outra coisa de quem não soube nunca o que são as praxes da boa educação, mas pelo contrário vive só pelos alcouces e neles tem aguçado a sua índole já de si mesma maldosa, que o nobre conde, e toda a população da cidade faz justiça á classe que eles tão infamemente ultrajaram com aquela sua acção malcriada e infame.
É preciso que se desenganem que não é possível haver nunca aqui boa harmonia e santa paz enquanto daqui não forem escorraçados os meliantes que tão infamemente tudo desconcertam e enrodilham.
Religião e Pátria, n.º 29, 2.ª série, Guimarães, 9 de Dezembro de 1863
sábado, 8 de outubro de 2011
Traditions and Festivals

One of the most colourful and oldest festivals in Guimarães is called the Nicolinas (the feast of St. Nicholas; the devotion to St. Nicholas was spread by pilgrims, as the Saint was a protector of poor girls, oppressed and destitute people, merchants, prisoners, children and students), and it is celebrated by students. The ‘Nicolinas’ are the local student festivals, taking place from the 29th of November to the 8th of December, named after St. Nicholas; the St. Lucy’s Day celebrations take place on the 13th of December. It has several significant moments and it includes events such as the planting of a pine tree in the main square, the collection of offerings (mostly food and drink) from wealthy homes, which are then shared in the streets. Moreover, there is a night of 'robberies' during which objects are removed from public places and left in the central square where they can be recovered by their owners, reciting poetry in the streets and offering apples to young ladies on their balconies. The apples are stuck on long poles or lances, and the ladies thus honoured accept them and return the gesture with some sort of trinket. The festivities end with a grand Nostalgia Ball.
sábado, 1 de outubro de 2011
Nicolinas
« (...) Pela boquinha da noite de 29 de Novembro de 1895 começaram a aparecer na "Fraga do Cano", vindos em grande número pela desaparecida rua de Santa Cruz, os estudantes externos do velho Seminário-Liceu, que para aquela afamada taverna haviam marcado reunião magna. Abancados às compridas mesas que serviam os lavradores que aos sábados vinham feirar os seus gados, banquetearam-se com um rico caldo verde, onde nadava a tora de presunto, seguindo-se-lhe uma opípara rojoada a que não faltava o fígado, a tripa farinheira e os grelinhos embebedados em azeite do fino, do do Padre de S. Miguel, terminando com umas papas de sarrabulho de comer e morrer por mais e umas travessas de aletria, marelinhas e brilhantes, graças a uns pozinhos comprados no droguista, já que os ovos estavam pela hora da morte, dada a vizinhança do Natal. E tudo isto regado com um verde tinto de se lhe tirar o chapéu, que muito ajudava à digestão de tão pesada como abundante comezaina. Terminada esta, muniram-se os circunstantes, que já então envergavam jalecos e coletes e se cobriam com o barrete verde e vermelho do lavrador minhoto, das baquetas e maçanetas consoante as "caixas" e "zabumbas" que lhes competissem e trataram de completar o cortelo, já em organização sob a carvalha do Cano: à frente, o carro de Minerva, deusa da Sabedoria, logo seguida do numeroso grupo dos "Zés P'reiras", atroando os ares com o seu cadenciado zabumbar; seguiam-se muitas dezenas de juntas de gado, que puxavam o pinheiro mais alto e mais aprumado que as luxuriantes matas de Aldão haviam produzido; a fechar, a música dos "Aguças", que, em tanto arruído, mal fazia ouvir os acordes do Hino de S. Nicolau. (...)»
A. Faria Martins, in Os Velhos 1895-1970, AAELG, 1970.
Hino a São Nicolau
Hino a São Nicolau
Letra de A. Meireles Graça
Música de Prof. Óscar Machado
Nicolinas 2000
Canto I
Nicolau o santo mor
Do altar vimaranense
Lição sabida de cor
Deste Amor que te pertence!
Alegria companheiros
Nosso Santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal
Cumprimos a Tradição
Do Santo somos meninos
Mantendo no coração
A chama dos Nicolinos...
Para viver a alegria
Seja lá aonde for
Mantemos a fantasia
Do teu milagre maior:
Somos aqueles meninos
Saídos da salgadeira
Somos Velhos Nicolinos
Vamos lá à brincadeira!
Somos velhos Nicolinos
Somos velhos sem idade
Fazemos nos nossos sinos
Badalos da mocidade...
Alegria companheiros
Nosso santo é Imortal
Somos os pioneiros
Do Saber em Portugal!
São Nicolau!...
…Sou nicolino!
Canto II
Nicolau o santo mor
Do altar vimaranense
Loção sabida de cor
Deste Amor que te pertence!
Alegria companheiros
Nosso Santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal
Somos Velhos Nicolinos
Estudantes do Passado
Alegres como meninos
Com o Santo do seu lado!
Alegria! Haja alegria
Para a vida ser vivida
No sonho e na fantasia
Da criança em nós mantida...
Da criança em nós achada
No milagre permanente
Da Saudade renovada
Do Passado no Presente!
Por caminhos da alegria
Vontade e perseverança
Neste sol de fantasia
Feita sonho de criança.
Alegria companheiros
Nosso santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal!
São Nicolau!...
Sou nicolino!
Canto III
Nicolau o santo mor
Do altar vimaranense
Lição sabida de cor
Deste Amor que te pertence!
Alegria companheiros
Nosso Santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal
São Nicolau milagreiro
Da esperança redentor
Proteges o marinheiro
Das vagas em seu furor
Proteges o prisioneiro
Do terror da solidão
E fazes nele primeiro
O milagre do perdão!
És o santo padroeiro
Das crianças indefesas
E também do marinheiro
E das almas que são presas
És tu sempre o salvador
Dos que vivem solidão
Dos que sofrem por amor
E estudam por devoção!
Alegria companheiros
Nosso santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal!
São Nicolau!...
Sou nicolino!
Canto IV
Nicolau o santo mor
Do altar vimaranense
Lição sabida de cor
Deste Amor que te pertence!
Alegria companheiros
Nosso Santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal
São Nicolau do Saber
Preclaro defensor
Em teu livro vamos ler
O caminho redentor
No estudo e no trabalho
Façamos com alegria
Com a pena e com o malho
Pão-nosso de cada dia!
Nicolau terás de ser
De estudante o protector
Para que ganhe o Saber
Com alegria e sem dor:
Transformas o sofrimento
Em alegre escravidão
E fazes do Pensamento
Fartas searas de pão!
Alegria companheiros
Nosso santo é Imortal
Somos nós os pioneiros
Do Saber em Portugal!
São Nicolau!,..
...Sou nicolino!